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Maria Dapaz: A VOZ QUE NÃO SE CALA

  • Julia Souto
  • 7 de ago.
  • 3 min de leitura

*Por Rinaldo Remígio


Há artistas que cantam músicas. E há aqueles cuja própria vida é uma canção. Maria Dapaz foi dessas raras melodias que o tempo não apaga. Uma voz do Sertão que atravessou microfones, fronteiras, estilos e décadas, deixando em cada nota um pedaço da alma nordestina.

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Nascida em 25 de março, em Jaboatão dos Guararapes, e criada no coração de Afogados da Ingazeira, Maria Dapaz começou sua jornada musical bem cedo — e com raízes firmes no seu chão. Ainda conhecida como Paizinha, ela integrou o “Conjunto Os Unidos” de Afogados da Ingazeira, juntamente com os parceiros João do Baixo, Toinho Tarê, Edson (baterista), Chagas, Seu Dino, Edivonaldo e o amigo Luís Freitas que nos deixou esta semana, grupo musical que embalou muitas noites no então ACAI — Aero Clube de Afogados da Ingazeira. Pode-se dizer, sem exageros, que foi ali que sua voz começou a ganhar asas. O Grupo Marajoara, que mais tarde a contrataria, já encontrou uma artista pronta, lapidada nas serenatas e nos bailes do sertão pernambucano.

Fomos contemporâneos. Tivemos a alegria de estudar no Ginásio Monsenhor Pinto de Campos em Afogados da Ingazeira, juntamente com sua irmã Maria do Socorro, onde ela já demonstrava aquela presença suave, mas marcante — a mesma que viria a dominar palcos, microfones e corações. Era fácil perceber que aquela menina simples e talentosa trilharia um caminho especial.

Na década de 1980, já no Recife, brilhou nas casas de show e nos programas de televisão. Em 1981, lançou Pássaro Carente, seu primeiro disco — um voo audacioso e lírico que lhe rendeu o prêmio “Disco Visão” como revelação da MPB. Não era só uma nova artista: era uma identidade musical que nascia para o Brasil.

Nos anos 1990, Maria Dapaz ampliou sua arte ao compor canções que foram parar nas vozes de gigantes da música sertaneja. “Brincar de ser feliz”, eternizada por Chitãozinho e Xororó, é um exemplo emblemático: a caneta de Dapaz escrevia o que o coração de milhões sentia. E assim, sem nunca perder sua essência, ela percorreu uma trajetória rara — transitando entre o bolero, a seresta, o forró, a MPB e o sertanejo com a mesma autenticidade de quem não canta para aparecer, mas para tocar.

Maria Dapaz partiu no dia 27 de julho de 2018, aos 59 anos. Mas falar em adeus talvez não seja o verbo mais justo. Porque quem planta música com verdade colhe eternidade em cada lembrança.

Ela gravou 16 discos. Mas seu maior legado não cabe em nenhum CD ou plataforma digital. Está nos encontros com o público, nas noites de festival, nas letras que continuam sendo trilha de vidas comuns — e principalmente, no exemplo de resistência artística feminina, nordestina, sertaneja, múltipla.

Dapaz não foi um furacão midiático. Ela foi brisa constante. Daquelas que não fazem escândalo, mas transformam o ar. Cantou o amor, a dor, a alegria, a saudade — com a mesma elegância com que viveu.

Em maio daquele ano, mesmo enfrentando um diagnóstico difícil, abriu com brilho a Noite do Bolero no Festival da Seresta. Era como se dissesse: “a música segue, mesmo quando a vida tropeça”.

E segue mesmo, sua canção continua. Nas rádios, nas vozes de quem a gravou, nos corações de quem a ouviu. Você não foi apenas cantora ou compositora. Foi um patrimônio afetivo da nossa cultura.

Maria Dapaz: um nome que rima com paz, mas que também se escreve com coragem, com arte, com o peito aberto de quem sempre soube — como só os verdadeiros artistas sabem — que viver é cantar, mesmo que doa.


*Professor universitário e memorialista


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